Palmeira, a Lisbon staple since 1954, closed its doors yesterday for the final time. Photos and story by Jess R.
Hoje fecha as portas o Palmeira, um dos mais icónicos restaurantes históricos de Lisboa.
A notícia correu célere entre a legião de clientes habituais, e nos últimos dias passaram por lá verdadeiras romarias de despedida. Eram sobretudo de consternação as
palavras ditas, e sentidos os abraços trocados com os empregados, com quem os clientes tinham uma relação cúmplice. “Foi um prazer servir-vos” — o prazer foi
nosso.
em português:
No Palmeira não se pediam cervejas – as cervejas iam chegando, persistentes, até dizermos, derrotados “hoje fecho a loja por aqui.”
Comia-se bem; fartos pratos tradicionais como a cabidela, o pernil, a carne de porco à alentejana, um bitoque notável. Mas também se petiscava. Entre as moelas, o pica-pau ou os enchidos, a cerveja vinha sempre acompanhada de tremoços e batatas fritas acabadas de fazer, bem carregadas de sal. Era também um dos últimos espaços onde se podia fumar em Lisboa.
Entrar no Palmeira era como atravessar um portal onde o tempo passava de uma maneira diferente— e onde os telemóveis não tinham rede. Passava-se tempo, conversava-se, tinham-se reuniões de trabalho. De lá saía-se, invariavelmente, mais tarde do que o inicialmente previsto – e a cheirar a tabaco e batatas fritas.
Maria do Rosário Carapinha, 56 anos, conta-nos como desde o incêndio do Chiado, nos anos 80, se tentava negociar obras de reabilitação do edifício. Dessa necessidade tão premente e inadiável resulta esta difícil decisão – aceitar o acordo com a Câmara de Lisboa, que vendeu o edifício a um privado cujas intenções não são conhecidas.
Conta-nos também como cresceu ali – fundado em 1954 pelo seu pai José de Almeida, o Palmeira foi palco da celebração do seu primeiro aniversário, e por ali foi crescendo, e vivendo, até à morte do seu pai, há 9 anos, quando se torna proprietária do espaço e dá seguimento ao seu trabalho.
“Não faz sentido abrir outro Palmeira, noutro lugar”. É uma história que termina; um livro que se fecha definitivamente na história da Baixa de Lisboa.
Não sabemos o que vai nascer no seu lugar – mas sabemos que é irreparável aquilo que se perde.
Até sempre!
in English:
At Palmeira, you didn’t ask for beers – beers kept coming, persistently until you say, defeated “I’m done for the day.”
You ate well; plates crammed with traditional dishes such as giblets, ham, pork Alentejo-style, and a remarkable bitoque. And there’s also petiscos. Among the gizzards, the pica-pau, or enchidos, the beer was always accompanied by tremoços and french fries loaded with salt. It was also one of the last places where you could smoke in Lisbon.
Entering Palmeira was like going through a portal where time passed in a different way— and where mobile phones had no network. We spent our time talking, we had work meetings. From there we left invariably later than originally planned— and smelling of tobacco and french fries.
Maria do Rosario Carapinha, 56, tells us how after the Chiado fire in the 80s, they tried to negotiate the rehabilitation work of the building. This need was urgent and they had a difficult decision to make— they had to accept the agreement with the Council of Lisbon, which sold the building to a private entity whose intentions were unknown.
She also mentions how she grew up there— founded in 1954 by her father José de Almeida, Maria do Rosário celebrated her first birthday there, and grew with the place up to the death of her father, 9 years ago, when the space was passed to her and she continued her father’s work.
“It makes no sense to open another Palmeira in another place.” It’s a history that has ended; a book that has closed definitely in the history of downtown Lisbon.
We do not know what will rise in its place – but we know that what is lost is irreparable.
Até sempre!